A arte que surge do lixo

Caderno C / COLETIVA / Itens recicláveis servem de matéria-prima para obras de artistas em exposição no Centro de Convivência

Carlota Cafiero
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
carlota@rac.com.br

Parece que o espírito dadaísta tomou conta dos artistas que vão expor a partir de hoje na Galeria Bernardo Caro. Pelo menos, no que diz respeito à transformação de objetos descartados em obras de arte. Mas, em vez de querer provocar os meios tradicionais de arte ou o público, a motivação da mostra é alertar sobre a importância da reciclagem.
Com o título Arte no Meio Ambiente, a exposição reúne instalações e telas de 11 artistas: Celso Norte, Daphne, Dimas Garcia, Dio Pinez, João Bosco, Jerci Maccari, Narege, Nelson Norte, Paulo Duarte, Simone Thibes e Solange Cazzaro, no Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes — justamente em um espaço público que também precisa de cuidados urgentes.
A preocupação dos artistas com a mensagem ecológica se reflete também no convite para a mostra, feito em papel reciclado, e no trabalho social, que envolveu 98 crianças da Escola Estadual Doutor Antônio Pires Barbosa, do Jardim Capivari. A convite de Paulo Duarte, artista que idealizou a exposição, as professoras de educação artística da escola trabalharam o tema do meio ambiente com os alunos.
Apreender ou revelar os vestígios de memória impressos nos objetos é o que interessa ao artista e ilustrador João Bosco. Com fragmentos de papelão, plástico ou madeira colhidos em descartes, ele constrói o que chama de “relicários da memória”. Pendurados no alto das paredes da galeria, parecem oratórios em homenagem à memorabilia e à história da arte. Na supefície desses materiais baratos, ele sobrepõe colagens, desenhos e camadas de tinta. “Trabalho há muito tempo com essa ideia de catar as coisas. Pego coisas que estavam no chão e as elevo”, diz.
Sobre um suporte mais tradicional, Dio Pinez apresenta sua releitura do Paraíso do qual Adão e Eva foram expulsos. Sobre duas telas, ele colou reproduções das duas figuras bíblicas ao lado do lixo industrial gerado pelo ser humano.
O uso de objetos reciclados reaparece nos trabalhos de Paulo Duarte — que pintou sobre retângulos de papelão e criou uma espécie de jogo da memória —, Simone Thibes, Celso Norte, Solange Cazzaro, Nelson Norte, Dimas Garcia e outros.
Mais exposições
Duas retrospectivas abrem hoje em espaços alternativos da cidade: no Fran’s Café Cambuí, Max Arpal comemora 10 anos de artes visuais, enquanto que na Pizzaria Fiduccia, também no Cambuí, Acácio Pereira mostra seis telas e seis trabalhos digitais.
Também jornalista e publicitário, Max Arpal é pintor autodidata. Suas telas se destacam pelas figuras com formas inusitadas e colorido vibrante, feito com materiais orgânicos como borra de café, açafrão e temperos que pigmentam massas, além de tinta acrílica.
Também autodidata, Acácio Pereira tem uma trajetória singular: começou a pintar na universidade, enquanto cursava engenharia civil, e desde 1997 trabalha como Guarda Municipal em Campinas. Para criar suas telas, mistura técnicas como fotografia, projeção de slides, colagem e pintura.

SAIBA MAIS EXPOSIÇÕES QUE ABREM HOJE EM CAMPINAS:

Arte no Meio Ambiente — Galeria Bernardo Caro, Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes (Praça Imprensa Fluminense, s/nº, Cambuí, 3232-4168). Visitas de terça a domingo, das 14h às 21h, até 21/6. Abertura às 19h30
Retrospectiva das Formas Inusitadas — Fran’s Café Cambuí (Rua Conceição, 809, 3254-4166). Até 7/7. Abertura às 20hRetrospectiva de Acácio Pereira — Pizzaria Fiducia (Rua Padre Almeida, 352, Cambuí). Até 30/6. Abertura às 20h